Com um formato inusitado de Escola de Samba, a Liberdade Ainda que Tam, Tam, por 14 anos consecutivos, sai às ruas do centro de Belo Horizonte para:
- Comemorar o 18 de maio – Dia Nacional de Luta Antimanicomial,
- Chamar a atenção de toda a população para a luta contra o preconceito às pessoas em sofrimento mental,
- Propor e defender o fim dos hospitais psiquiátricos e a sua substituição por serviços abertos, públicos, de qualidade, que garantam o tratamento em liberdade e os direitos de cidadania a esta clientela, historicamente excluída da sociedade.
- Defender a Reforma Psiquiátrica Antimanicomial
Nesse ano de 2011, o 18 de Maio será a comemoração/celebração dos cinqüenta anos do livro A História da Loucura na Idade Clássica, lançado em 1961, na França,no qual localizamos os subsídios teóricos para os princípios da nossa luta. Seu autor é Paul-Michel Foucault, filósofo francês (1926-1984), um pensador insubmisso de nosso tempo.
Daí o tema do desfile deste ano: “HISTÓRIAS DA LOUCURA: MICHEL TAMBÉM CONTOU!” Esse exercício coletivo de pensamento possibilitou também nos reconhecermos continuadores da narrativa de Foucault na construção viva de novos capítulos da história da loucura. Os sub-temas a seguir compõem e organizam a seqüencia do enredo, com a Escola de Samba evoluindo com as seguintes alas:
1ª ala: “ENTREI DE GAIATO NO NAVIO”: refere-se à loucura antes de sua reclusão. Na Idade Média, nada de prisão ou hospital para os loucos. Ele vivia solto, errante, expulso das cidades às vezes, vagava pelos campos ou era entregue a comerciantes e marinheiros. São dessa época as embarcações denominadas Nau dos Insensatos que levavam os loucos de uma cidade a outra na Europa, por onde corriam os rios.
2ª ala: “NO JARDIM DAS DELÍCIAS, O LOUCO É REI!”: discorrerá sobre a experiência da loucura, tão bem retratada na obra “O Jardim das Delícias” de Bosch. A experiência da loucura (os delírios e alucinações) esteve presente em todos os 18 de Maio. Para o coletivo que constrói esta manifestação, a expressão dessa vivência é quesito fundamental para a superação de mitos.
3ª ala: “HOSPITAL TOTAL, PEGA UM, PEGA GERAL”: representará o momento da “captura”, o grande enclausuramento empreendido na Europa, o agrupamento dos miseráveis, desocupados, bêbados, mágicos, hereges, doentes venéreos, alquimistas e os loucos. Todos os excomungados sociais colocados num único espaço. “Coincidências” à parte, tudo isso ocorre em pleno advento do capitalismo e, portanto, são os inadaptados e improdutivos que vão habitar as casas de correção e os ditos hospitais gerais (nomeação dos espaços de confinamento, mas que nada têm a ver com o que chamamos hoje de hospital).
4ª ala: “A RAZÃO ARRASOU, O HOSPÍCIO CHEGOU!”: apresentará o nascimento da psiquiatria e do hospital psiquiátrico da maneira que conhecemos hoje. Será o encobrimento da loucura como saber que expressa a experiência trágica do homem no mundo, impossibilitando a troca entre um saber e outro. Inaugura-se o monólogo da razão sobre a loucura e a concepção de doença mental.
5ª ala: “TERRA À VISTA!”: é a ala das crianças e adolescentes. Mostrará que a história continua, mas num outro sentido: o da sociedade sem manicômios. Inventividade e sensibilidade estão presentes nos serviços substitutivos ao manicômio; o novo modelo de tratamento, o cuidado em liberdade e o resgate da loucura enquanto experiência humana. Temos sim o que festejar e o que sustentar! Mil vivas às conquistas de um novo tempo para a diferença.
6ª ala: Ô ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR, EU SOU DA LUTA NÃO POSSO CALAR!: a ala dos movimentos sociais tratará de outras obras de Foucault, que também refletiu sobre as prisões, a sexualidade, a clínica, as práticas jurídicas, em livros como a História da Sexualidade, Microfísica do Poder, Vigiar e Punir. Foucault nos diz que a partir do momento em que há uma relação de poder, há uma possibilidade de resistência e que é possível modificar uma dominação sob determinadas condições e conforme estratégia adequada. Convocamos todos os movimentos sociais para fechar o desfile com esta história que não tem fim, até chegarmos à realidade de uma sociedade sem manicômios.
PARTICIPAM DESTE DESFILE OS USUÁRIOS, FAMILIAES E TRABALHADORES DE TODOS OS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS DE BELO HORIZONTE, IPATINGA, JOÃO MONLEVADE, NOVA LIMA, RIBEIRÃO DAS NEVES, SÃO JOAQUIM DE BICAS, BETIM, CONTAGEM, BRUMADINHO, SABARÁ, IGARAPÉ, PEDRO LEOPOLDO, ESMERALDAS, ENTRE INÚMEROS OUTROS.
ALÉM DELES, VÁRIOS COLETIVOS DE ESTUDANTES DA UFMG, UNIFENAS, CIÊNCIAS MÉDICAS, FUMEC E NEWTON PAIVA, ENTIDADES DE DIREITOS HUMANOS, DE CATEGORIAS PROFISSIONAIS, ETC
PROMOÇÃO:
FÓRUM MINEIRO DE SAÚDE MENTAL E ASSOCIAÇÃO DOS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL DE MINAS GERAIS
APOIO:
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA – 4ª REGIÃO
VEREADOR ARNALDO GODOY
DEPUTADO ESTADUAL ROGÉRIO CORREIA
SINDICATO DOS FARMACÊUTICOS DE MINAS GERAIS
SINDICATO DOS PSICÓLOGOS DE MINAS GERAIS
CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
DIA: 18 DE MAIO (4ª FEIRA)
LOCAL: PRAÇA SETE (QUARTEIRÃO FECHADO DA RUA RIO DE JANEIRO)
CONCENTRAÇÃO: À PARTIR DE 13 HORAS
INÍCIO DO DESFILE: 14:30 HORAS
TRAJETO: PRAÇA SETE, AVENIDA AFONSO PENA, AV. ÁLVARES CABRAL, AV. AUGUSTO DE LIMA, RUA RIO DE JANEIRO, TERMINANDO O DESFILE NO QUARTEIRÃO FECHADO DA RUA RIO DE JANEIRO ESQUINA COM TAMOIOS.
SAMBA ENREDO DO 18 DE MAIO/2011: COMPOSTO E EXECUTADO POR UM USUÁRIO DOS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS DE SAÚDE MENTAL DE BELO HORIZONTE, JULIANO DA SILVA, USUÁRIO DO CERSAM LESTE E DO CENTRO DE CONVIVÊNCIA ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO
SOU O REI DA LOUCURA
Autor: Juliano da Silva (usuário do CERSAM Leste e Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário)
REFRÃO
Sou o rei da loucura
Da loucura sou realeza
Com o samba na cintura
Eu sou maluco beleza
Desfilo na passarela
A minha fantasia é a mais bela
No Jardim das Delícias
Eu sou Adão e você e minha Eva
REFRÃO
Foucault fez da literatura
A expressão da loucura
Que expressa nossa luta
Contra a falsa ditadura
REFRÃO
Somos tão diferentes
E ao mesmo tempo
Somos iguais pois
A nossa igualdade
É lutarmos pelos nossos ideais
REFRÃO
Michel contou a história
No nosso presente
Para mexer com o mundo
Em prol de quem é diferente
Nada como o tempo e a mão das estações.
"por isso eu não deixo de caminhar.. não deixo de procurar"
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