quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Psicanalistas refletem sobre racismo

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No dia 20/11 foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Desde a gestão de Pedro Gomes a nossa Sociedade assumiu o compromisso de não deixar essa data passar "em branco". Nos propusemos a realizar alguma atividade para discutir a questão do preconceito em geral e contra a população negra em especial. Neste ano a data coincidiu com o Simpósio e Assembléia de Delegados da Febrapsi realizados em Salvador que, nesse mesmo final de semana recebia delegados de diversos países que comemoravam a escolha da capital baiana como Capital Negra da América Latina. Durante o evento Febrapsi, atendendo a uma sugestão de Ney Marinho, o presidente Leonardo Francischelli que encerrava a sua gestão mencionou a data e leu trec hos do documento anexo de Marco Antonio Chagas Guimarães, doutor em Psicologia pela PUC-RJ. Assim, todas as Sociedades Psicanalíticas brasileiras se irmanaram na co memoração. Juntem-se a nós na leitura do anexo.

Bernard Miodownik e Wania Cidade

Delegados pela SBPRJ

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÃLISE DO RIO DE JANEIRO - SBPRJ

www.sbprj.org.br

População Negra, Racismo e Sofrimento Psíquico

Marco Antonio Chagas Guimarães (*)

O Brasil é um país pluri-étnico que tem em torno de 52% de sua população constituída de negros (pretos e pardos), sendo o segundo país no mundo em população negra, seguido da Nigéria, país africano. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Estado reconheceu que existe racismo no Brasil, mas a “herança do período escravocrata existente no imaginário brasileiro faz com que o racismo e a discriminação racial estejam profundamente enraizados na cultura e nas dinâmicas socais do nosso país” (Quintiliano e Lopes, 2007, p.1). Estatísticas oficiais evidenciam que o racismo é um dos determinantes das condições de saúde, o que resulta em altas taxas de morbidade e mortalidade da população negra e na existência de desigualdades e iniqüidades que impedem o acesso a direitos à metade da população brasileira.

No imaginário de nossa “democracia racial” ser negro é, por exemplo, ser feio, sujo, ter pouca inteligência. As positividades negras são, em geral, pensadas/sentidas em termos idealizados e/ou folclorizados, relacionado-as, ao samba, ao futebol, à destreza sexual, à resistência para o esforço no trabalho, ou resistência à dor. Ainda hoje, a literatura chama de banzo, numa forma romântico-folclorizada, o que sabemos ter sido depressão, conseqüência do sofrimento psíquico de pessoas negras durante o período escravocrata.

Na prática o produto final desse imaginário promove o travamento de portas em bancos, o acompanhamento - com o olhar e com a presença acintosa - a pessoas negras em shoppings e supermercados, promove a procura e o encontro de balas perdidas em corpos de sujeitos psíquicos que têm, em sua grande maioria, uma determinada cor. Sabemos também que a repercussão dessas vivências leva ao trabalho de baixa remuneração, desigualdades em educação e iniquidades em saúde, só para citar algumas formas de não garantia de direitos humanos.

A clínica de pacientes negros tem mostrado que as repercussões psíquicas dessas vivências, em um meio ambiente nada bom o suficiente, são humilhação social, baixa estima, timidez excessiva, irritabilidade, ansiedade intensa, estados fóbicos, hipertensão, depressão, obesidade, agressividade intra ou intersubjetiva, uso de álcool ou outras drogas, entre outros.

Neste dia 20 de novembro, dia em que se propõe uma reflexão à consciência, de negros e brancos, sobre as questões raciais brasileiras, por intermédio da figura de um representante da resiliência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares, é importante que a psicanálise e nós, psicanalistas, possamos refletir em nossas interioridades, em nossos corações, sobre o tema “racismo e sofrimento psíquico” lembrando que a história da população negra no Brasil, assim como de sua subjetividade, é construída a partir de um processo político, econômico e ideológico que promove vulnerabilidades e iniqüidades no acesso aos direitos humanos.

O Premio Nobel da Paz de 1986, Elie Wiesel, sobrevivente de campos de concentração nazistas, numa entrevista concedida a revista Veja, em 2009, lembra-nos que o holocausto não pode ser negado “porque dói. Dói nos sobreviventes, nos seus filhos e nos filhos de seus filhos. Quem nega o holocausto pela dor que inflige aos sobreviventes e seus descendentes, comete mais do que apenas pecado (alienação). É uma crueldade”. Como muito bem aprendemos com a população judaica, é preciso “não esquecer para não repetir jamais”.

Minha contribuição busca propor que as pessoas presentes neste Encontro da Federação Brasileira de Psicanálise – Febrapsi possam acolher em suas interioridades, para posterior reflexão, a ideia de que o racismo é estruturante de nossas relações sociais e que as subjetividades que somos todos e, todos nós psicanalistas e profissionais de saúde mental, são construídas no interior destas relações. A ideia do quanto esse elemento fala, ou não, em nós, quando somos agentes de saúde, na escuta psicanalítica ou no trabalho em saúde mental. Meu desejo com esta contribuição é também buscar, além do direito à saúde, uma consciência mais ampla das relações sociais e de direitos humanos entre os brasileiros. < /div>

Neste sentido, associo-me ao desejo expresso na fala de Sueli Carneiro, quando ela diz que “A utopia que hoje perseguimos consiste em buscar um atalho entre uma negritude redutora da dimensão humana e a universalidade ocidental hegemônica, que anula a diversidade. Ser negro sem somente ser negro, ser mulher sem ser somente mulher, ser mulher negra sem ser somente mulher negra. Alcançar a igualdade de direitos é converter-se em um ser humano pleno e cheio de possibilidades e oportunidades para além de sua condição de raça e gênero. Esse é o sentido final dessa luta” (Carneiro, 2003, p.57).

Referência Bibliográfica

CARNEIRO, S. - Enegrecer o Feminino: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partir de uma Perspectiva de Gênero – in- ASHOKA Empreendedores Sociais e Takano Engenharia (org.) – Racismos Contemporâneos. Takano, Rio de Janeiro, 2003.

QUINTILIANO, L., LOPES, F. – Combate ao Racismo Institucional, DFID – Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional, Brasília, 2007.

(*) - Doutor em psicologia clínica (PUC-Rio), psicólogo, psicanalista, integrante do Grupo Psicossomática Psicanalítica Oriaperê (RJ), integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (núcleo RJ).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O que é o racismo institucional? Psicólogo Valter da Mata explica em vídeo.

vídeo.

O que é o racismo institucional? Psicólogo Valter da Mata explica em vídeo.

O que é o racismo institucional? Psicólogo Valter da Mata explica em vídeo.

O presidente do Conselho Regional de Psicologia 03ª Região, Valter da Mata fala sobre o racismo institucional e suas consequências. Conheça...

Link do vídeo:

O que é o racismo institucional? Psicólogo Valter da Mata explica em vídeo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E A CERVEJOLÂNDIA, COMO É QUE FICA

Com a desastrada ação contra os habitantes-usuários da Cracolândia em São Paulo, o país, parece,acordou contra o Crack. O debate já saiu da esfera social e passou à esfera política. Vamos deixar a política de fora, já basta a desgraça das drogas.

De custo baixo, o Crack oferta alto índice de êxtase temporário, com lesões cerebrais,irreversíveis, que dificulta mais ainda a sua abstinência. Literalmente é a pior das drogas,como foi a heroína nos anos 70,cujo consumo foi consideravelmente diminuído, devido ao seu alto custo e ter que ser injetada na veia.

Ao largo do Crack, da Cocaína e da potencializada Maconha, passa sorrateira e socialmente aceita, a saborosa, barata e fácil de ser gelada, a Cerveja.

Essa bebida antes era amarga e tinha o inconveniente de ser em garrafas de vidro, por isso, só os mais velhos a aprovavam. Atualmente, colocaram açúcar e em práticas latas de alumínio que, além de baratas, são fácies de gelar.

A juventude embalada em esplêndida publicidade tornou-se público fácil de ser alienada. Cada vez mais no Carnaval,nos shows de Rock e os múltiplos Carnavais Fora de Época (Carna folia ou Micareta) conseguem mais adeptos dessa ´´inocente`` bebida.

Não há um único usuário do Crack que não tenha começado com cerveja ou outro tipo de bebida alcoólica. Sendo esse um ponto importante a ser colocado em debate. Afinal, todo problema ou doença - o uso de e qualquer substância química é uma doença - deve ser combatido a partir da sua origem.

A indústria da cerveja disponibiliza um milhão e 800 mil empregos e equivale a quase 2% do PIB nacional. São cifras expressivas mas, que, por isso mesmo, devem ser analisadas olhando a uma outra cifra ainda mais expressiva que é o alto custo com as vítimas do consumo dessas bebidas.E, não estamos falando do câncer, tendo como causa o uso da bebida alcoólica.

Vivemos atualmente,colhendo os frutos do excelente resultado da conscientização ao combate ao tabagismo. A indústria do tabaco também tinha expressivo número de trabalhadores,inclusive na zona rural, e, nem por isso, vivemos problemas com a diminuição dos seus lucros, pelo contrário,vivemos resultados positivos.Fumar hoje deixou de ser bonito,charmoso ou vigoroso.Fumar virou ser obsoleto e fora de moda.

Poderíamos, portanto, imitar a campanha anti-tabagismo, começando com o veto total à publicidade de qualquer bebida alcoólica e ao patrocínio por cervejarias ou similares, para qualquer tipo de festa ou evento. Melhor ainda, seria restringir o uso de bebida alcoólica depois da 00.00h em locais públicos. E no Carnaval? Só até a 00.00, também.

Não acabaríamos com o alcoolismo e nem com o uso de outras drogas, mas, com certeza, teríamos menos acidentes provocados por condutores alcoolizados,menos violência, menos absenteísmo e teríamos uma expressiva diminuição de habitantes nas Cracolândias de cada Estado da União. Afinal, a Cracolândia não é só em São Paulo.

Eduardo Leite

gastroajuda@hotmail.com

Postado por Eduardo Leite às 10:13 AM

1 comentários:

Paulo Moraes disse...

Caro Eduardo só queria fazer um debate sobre esta parte do seu texto.
"Poderíamos, portanto, imitar a campanha anti-tabagismo, começando com o veto total à publicidade de qualquer bebida alcoólica e ao patrocínio por cervejarias ou similares, para qualquer tipo de festa ou evento. Melhor ainda, seria restringir o uso de bebida alcoólica depois da 00.00h em locais públicos. E no Carnaval? Só até a 00.00, também."
Acho que combater a publicidade é uma ferramenta importante, mas a proibição do uso, mesmo que seja em um horário e em determinado local não funciona. A politica anti-tabagismo funciona muita mais pelas campanhas educacionais que pela nova lei anti-fumo. O Proibicionismo é um erro, temos é que educar e enfrentar a lógica capitalista que estra por trás.

Sábado, Janeiro 14, 2012 11:37:00 AM

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